Elsa Brès
(2021)
HD, cor, som, 17 min
Explorando o confronto e as relações entre humanos e não-humanos, Brès questiona as ficções antropocêntricas da "Natureza" que tornam difícil reconhecer a nossa existência numa ecologia interligada. Construindo um mundo não-humano em que os javalis são os principais protagonistas, esta obra de ficção experimental utiliza ferramentas de ecologia quantitativa para ajudar a desenvolver o seu argumento - incluindo sistemas de mapeamento geoespacial e uma vara de javalis animados por algoritmos. Manipulando pontos de dados, Brès usa a cartografia como ferramenta para abrir novas perspectivas de alianças entre humanos e não-humanos. Situado algures entre o real e o virtual, o mundo que a artista constrói ajuda-nos a imaginar formas alternativas de ver o mundo, confrontando as filosofias antropocêntricas prevalecentes com a especulação de um comunismo dos vivos. Atravessando as fronteiras entre a produção artística, a investigação e a exposição, o trabalho desenvolve-se no sentido da produção do novo filme de Brès
(Les Sanglières)
(Ben Evans James)
Pierre Creton
(2017)
HD, cor, som, 94 min
Va, Toto! de Pierre Creton é uma narrativa ensaística experimental em que um javali bebé, Toto, é resgatado e criado por Madeleine, uma elegante senhora idosa que vive na zona rural da Normandia... Embora a história pareça, à primeira vista, um conto de fadas, na realidade é tudo verdade, pois Madeleine é mesmo vizinha de Creton e os acontecimentos narrados foram filmados à medida que iam acontecendo. Esta mistura subtil entre a realidade quotidiana e uma certa magia cinematográfica fazem de Va, Toto! um dos filmes mais originais e encantadores dos últimos tempos.
Creton é, ele próprio, um animal artístico raro, na medida em que, paralelamente à sua atividade cinematográfica, trabalha como trabalhador agrícola e considera-se um amador ou "pintor de domingo", cujos filmes devem adaptar-se aos ritmos da sua vida profissional e, para além disso, aos ritmos da natureza. No caso de Va, Toto!, há muitos anos que Pierre desejava filmar a sua vizinha Madeleine, que sempre recusou os seus avanços artísticos, até ao dia em que Toto, um órfão cuja verdadeira mãe tinha sido morta por caçadores, apareceu na vida da senhora - altura em que ela convidou Pierre a entrar no seu mundo para filmar a história do jovem javali.
O material filmado diariamente por Creton durante um período de oito meses constitui o núcleo narrativo do filme-ensaio que ele viria a elaborar em Va, Toto! Para além da relação entre Madeleine e Toto, o filme conta duas outras histórias paralelas: uma viagem à Índia empreendida pelo companheiro de Pierre, Vincent Barré, para estudar os macacos sagrados de Shimla; e mais perto de casa, os sonhos inquietantes de Joseph, um vizinho com problemas respiratórios, que é obrigado a usar um ventilador mecânico dia e noite...
O entrelaçamento destas três histórias verídicas e a elegância formal do filme no seu conjunto, com a sua composição pictórica, a sua bela luz e os seus efeitos de ecrã dividido, produzem uma criação cinematográfica única e absolutamente original - uma espécie de filme de mistério natural, que conta certamente com a melhor interpretação de um javali na história do cinema!
(Essay Fim Festival)