
ANITA
Rassoul Labuchin
(1981)
16mm/HD, cor, som, 45 min
Centrado na personagem principal Anita – uma jovem camponesa que trabalha como empregada doméstica –, o filme de Rassoul Labuchin denuncia as práticas de trabalho infantil doméstico. Realizado por uma das figuras-chave do cinema haitiano, a história também funciona como uma metáfora da dependência e da servidão impostas pelo imperialismo norte-americano. Em claro desafio a um dos anos mais repressivos do regime político de Duvalier, ANITA foi imediatamente censurado e retirado de circulação. Sem se deixar intimidar, Labuchin e a sua equipa levaram o filme a cidades provinciais e ao interior, numa iniciativa móvel de educação política e construção de comunidade. O filme foi muito popular entre o público e a mídia haitianos como um retrato poético que parecia fiel às realidades socioeconómicas e políticas da ilha – e também foi amplamente celebrado quando foi lançado internacionalmente. ANITA trouxe uma importante perspetiva de género à documentação dos anos Duvalier, ao mesmo tempo que homenageava a amizade entre a protagonista e outra rapariga, Choupette, numa homenagem às formas de rebelião que por vezes podem parecer demasiado insignificantes para serem registadas. Foi também o primeiro filme haitiano a ser rodado em crioulo.

CETTE MAISON / THIS HOUSE
Myriam Charles
(2022)
16mm/HD, cor, som, 75 min
Uma meditação assombrosa e terna sobre deslocamento, luto e memória. O primeiro longa-metragem da cineasta haitiano-canadiana Miryam Charles é dedicado à sua prima Tessa, de 14 anos, cuja trágica morte em 2008 foi o ponto de partida para a reflexão da cineasta sobre a história de migração da sua família e a sua relação com o Haiti. Filmado em brilhante 16 mm, Charles retrata histórias traumáticas com um toque amoroso, lembrando clássicos do cinema diaspórico de mulheres negras, como DREAMING RIVERS (1988), de Martina Attile, e DAUGHTERS OF THE DUST (1991), de Julie Dash. THIS HOUSE alterna entre interiores sensivelmente artificiais e paisagens vibrantes e realistas, oferecendo um velório cinematográfico pela perda irrecuperável de uma jovem amada — e o consolo de uma elegia impossível.

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O QUE HÁ EM TI / BRAZIL IS THEE HAITI IS (T)HERE
Carlos Adriano
(2020)
HD, p&b / cor, som, 16 min
Em 16 de março de 2020, em Brasília, capital do Brasil, um haitiano anónimo e desconhecido desafiou o chefe da nação: «Bolsonaro, acabou. Você não é mais o presidente». Este filme-poema é um contraponto entre esse ato de protesto e as catastróficas operações militares realizadas pela Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti, comandada pelo Brasil.
