“She who knows she cannot speak of them without speaking of herself,
of history without involving her story,
also knows that she cannot make a gesture
without activating the to-and-fro movement of life.
“(Trinh T. Minh-ha)
Um território de relações em espiral na sobreimpressão da arte, do cinema, e da contra-etnografia: Trinh T. Minh-ha, Elke Marhöfer e Deborah Stratman, em movimentos descontínuos por diversas cine-geografias, e as suas tentativas de “apenas falar perto”, tecer correspondências, operar desvios.
REASSEMBLAGE:
FROM THE FIRELIGHT TO THE SCREEN
Trinh T. Minh-ha
(1982)
16mm/HD, cor, som, 40 min
" Um ecrã preto, sons de tambores e de claques e um texto que remete para o Senegal: A abertura de Reassemblage activa a geografia imaginária de África, seguida de uma montagem silenciosa de imagens fragmentadas de zonas rurais. Reassemblage é ostensivamente um filme sobre a vida no Senegal pós-colonial, mas é de facto uma crítica poética do olhar etnográfico e da autoridade documental. Aqui, as imagens e os registos de campo raramente correspondem e, desde o início, a narradora recusa qualquer esclarecimento adicional: "Não pretendo falar sobre/apenas falar perto". O filme de Trinh Minh-ha de 1982, lançado durante a viragem reflexiva da antropologia cultural, critica a representação etnográfica, a alteridade e um falso ideal de neutralidade. Ao mesmo tempo que activa as suas capacidades produtivas e critica as suas capacidades reprodutivas, o filme fala da centralidade da imaginação na técnica da etnografia. A autora esclarece, no entanto, que "o trabalho crítico em Reassemblage [...] não se dirige apenas ao antropólogo, mas também ao missionário, ao voluntário do Corpo de Paz, ao turista e, por último, mas não menos importante, a mim própria como espectadora". "Posicionando-se num local híbrido, Trinh T. Minh-ha relê o encontro de culturas em terreno não ocidental (Entrevista com Nancy Chan).
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PRENDAS – NGANGAS – ENQUISOS – MACHINES
{EACH PART WELCOMES THE OTHER WITHOUT SAYING}
Elke Marhöfer
(2014)
16mm/HD, cor, som, 25 min, 2014
O filme prendas - ngangas - enquisos - machines {each part welcomes the other without saying} reúne testemunhos de plantas e animais cujos antepassados foram deslocados para o novo mundo e "tiveram de colonizar a nova terra com os humanos como uma equipa". Na Cuba actual, animais como vacas, cavalos, cabras, porcos e galinhas fornecem alimentos e mão de obra e circulam frequentemente em liberdade. Tal como os membros da família alargada, alguns animais partilham relações estreitas com os seres humanos. Alguns entraram no estado intermédio entre o domesticado e o selvagem, outros regressam à floresta para inverter completamente a sua domesticação e tornarem-se algo completamente diferente. O filme propõe-se reatar a ligação entre os conceitos de corpo humano e animal, de vegetais e de história, que se encontram fortemente separados. Sugere que a natureza é, ao mesmo tempo, historicamente situada, evocando testemunhos de acontecimentos passados, ao mesmo tempo que reconhece as suas especificidades, e, ao mesmo tempo, está continuamente a crescer e a ultrapassar a formatação histórica com o seu modo único e maquínico de evoluir constantemente e criar algo novo. – Elke Marhöfer
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VEVER (FOR BARBARA) (2019)
Deborah Stratman
(2019)
16mm/HD, cor, som, 12min
Enlace de três cineastas de gerações diferentes à procura de alternativas às estruturas de poder de que fazem parte intrinsecamente. O filme surgiu de projectos cinematográficos abandonados de Barbara Hammer (imagens de uma viagem de mota que esta fez na Guatemala em 1975) e Maya Deren (reflexões sobre falhanço, encontro e iniciação no Haiti dos anos 1950). Vever é um desenho simbólico usado no vudu haitiano para invocar uma loa ou deus. – Deborah Stratman ]
O Cinema Fulgor agradece a Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca.